Tempo de ipês
É novamente tempo de florir ipês.
Primeiro os rosas, depois os amarelos e, enfim os brancos. A natureza segue sua ordem.
Os amarelos são meus prediletos.
Na verdade o ipê-amarelo-do-cerrado (tabebuia ou caraíba, seu nome), com suas flores que, vistas de longe, parecem pipocas amarelas no céu muito azul. Todo aquele descampado, as árvores baixas com troncos ásperos, parecem mortas e não estão. É o inverno, a secura da época.
Ser do cerrado é saber que aquelas árvores secas e retorcidas estão cheias de vida.
É saber que arderão em alguma queimada e ainda assim resistirão.
É saber que a vida existe, insiste e persiste.
As flores amarelas voltam todos os anos, nos ipêzinhos e nos ipês grandes, já senhores no tempo.
Assim mesmo –quase que só galhos e flores, folha rara. Verde inexistente.
Só o amarelo pipocando no azul sem fim.
Tinha um gosto profundo pelos silêncios demorados.
Riscava o chão com o dedão do pé, como se buscasse limpar a poeira. Cacoete.
'Se calhar eu vou'.
Era mais uma impossibilidade que uma promessa...
Entretanto, em seu coração, a esperança retumbou como o bumbo da fanfarra!
Era quanto bastava.
Cada um sabe a matéria que o constitui.
Nenhum outro intui a fundura, os amplos e estreitos que humanizam.
Um misto...
ResponderExcluirAmo os ipês. Belos, fortes, contrastantes com o céu. E sua descrição do cerrado e fez pensar na resistência que a natureza do sertão nos ensina também. Sejamos cerrado e sertão, renascendo quando os desavisados não mais os esperam.
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