Entrei para escrever. Encontrei a miséria.

Entrei para escrever. Encontrei um texto novo. As palavras organizadas em forma de tabefe. Como nos desenhos animados, a força da porrada faz a cara rodar, como se a cabeça conseguisse girar 360 graus sobre o pescoço. O texto é curto. Ainda bem! Ele comprime o estômago, tira o fôlego. Dói. Mas, ele ainda é belo. Quantos paradoxos experienciais cabem nos bons escritos?!
A beleza deve ser um atributo apenas acessível aos humanos. A beleza guarda, como dizia o poeta, um tanto de tristeza. Será ousadia minha supor que só nós humanos podemos ser tristes? Será isso uma maneira de manter nossa distância dos outros seres? De, por meios estranhos e não tão agradáveis, tentar permanecer como criaturas especiais?Outro dia vi um programa que falava que as baleias tem cultura. E eu, lesada e mimada, querendo que a cultura fosse nosso diferencial. As baleias cultas. Cantando nos mares suas alegrias e tristeza. Comunicando em suas notas distorcidas um concerto de dar inveja aos cantores que, com seus pequenos corpos e pulmões deficientes, não conseguem cantar enquanto nadam. Mesmo assim, a música é também, como os bons livros e suas palavras alinhadas para bater ou acariciar, um caminho para gente enfeitar e colocar perfume nas nossas misérias. Mesmo quando a gente ri, resta uma miséria. Uma miséria infindável, rica de formatos, plena de possibilidades. Confesso que nem acho tão miserável assim a miséria humana. Mas, e o menino das 14 facadas do texto? Será que a miséria dele é 100% miserável? Ou será que eu, aqui no meu mundinho classe média ajeitadinho, quero lhe negar até a beleza da miséria? Não sei.  E, não saber, é um modo de abraçar a miséria.

Comentários

  1. Eu me sinto honrada de ter uma amiga que cria de um tapa, uma poesia. Talvez o abraço na miséria tenha se adoçado um cadinho.

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  2. A miséria humana enquanto coletiva tem o mesmo peso de qq outra miséria em qq outra espécie, penso eu. No entanto, a miséria humana no sujeito, naquele único exemplar é devastadora. "Do ponto de vista cósmico, a vida e a morte de um homem e de um inseto são igualmente irrelevante." Eu sou pequena demais, limitada muito, para um ponto de vista cósmico, tantas vezes...

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