Considerações óbvias



De alguma coisa todos vamos morrer, que não seja, pois, de indignação.

Que não seja de raivas ou engasgada com palavras mal engolidas.

Minha vó sempre diz que quer morrer como um passarinho e eu sempre respondo, troçando, como é do meu feitio, “de pedrada ou presa no visgo?” Afinal, como morrem os passarinhos?

De morte natural é a resposta mais idiota. Há uma morte sobrenatural ou são todas ordinárias mesmo? Fico com a segunda opção.

De algum susto, em algum momento, de qualquer jeito todos vamos morrer. E viver?

Mas e VIVER?

Penso convicta que o medo da morte é tão somente o medo de não ter vivido. Medo de ter desperdiçado a vida, o tempo, não ter usufruído como era do seu desejo. Medo de encarar a enorme tolice e escrotidão que usou como subterfúgio toda uma existência. Medo de admitir que não fez sentido e é tarde. Que terrível sensação.

O pesar da morte é, então, o peso de uma vida que não se viveu? Desconfio, fortemente, que sim. Por escolha ou impossibilidade imposta. Desastroso, em qualquer das opções. Um pesar que também é, por muitas vezes, projetado.

Mas, então, se todos vamos morrer e sabemos disso, por que não viver?  Por que protelar a existência, como, se com isso, protelássemos a própria morte, num jogo de empurra sem sentido já que não sabemos quando termina?

É mais fácil viver ignorante e engando do que se abrir para o desconhecido. Respeito. (Mentira)

Anos para entender Bandeira, mais do que isso, para vivê-lo...

“Quando a Indesejada das gentes chegar

(Não sei se dura ou caroável),

talvez eu tenha medo.

Talvez sorria, ou diga:

— Alô, iniludível!

O meu dia foi bom, pode a noite descer.

(A noite com os seus sortilégios.)

Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,

A mesa posta,

Com cada coisa em seu lugar.”

 

Eis um caminho sem volta. E como é bom...

Como morrem os passarinhos, como morrem os guaxinins e os lagartos. Como morrem os homens e as estrelas. Não importa. Nada tem mais importância do que saber como vivem.

Comentários

  1. Batido, mas é o q tem pra hj...

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  2. batido, sofrido e verdadeiro

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  3. Tia, as coisas que pensamos óbvias são as que mais precisamos voltar nosso olhar. Morrer e viver são, no final da contas, as únicas opções (às vezes nem bem assim) que temos.

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(Saber o que o outro pensa, faz diferença...)