"O transitório definitivo"
Há anos li esse poema do Aníbal Machado, está no Cadernos de João, e foi daquelas coisas que a gente lê e sai carregando pela vida a fora, fica impresso, fazendo da gente o que a gente vai sendo. Na época, nunca esqueço, livro de biblioteca pública, cidade pequena, (nem sei se existia xerox), copiei na última folha do caderno. Até recentemente o tinha guardado, entre aqueles tesouros que só o são para uns raros e caros. Sempre que o “achava”, relia e aquela sensação voltava. Às vezes eu o procurava, buscando aquela sensação.
Qual é “aquela” sensação? (Difícil explicar sensação...) É a de quem se entendeu. Como se ele me dissesse para mim mesma. Era possível ser isso, assim (pensando no conteúdo). Era possível escrever assim (pensando na forma). Ser possível é uma coisa de tão pouca angústia! Que sensação agradável...
Mas era mais. De repente as coisas clarearam de uma tal maneira que o óbvio, até então inexplicável, tornou-se ululante, como diria Nelson Rodrigues. Explicitou-se, legitimamente, em mim o caráter da transitoriedade, o entendimento visceral e intrínseco de uma existência passageira. Nada era permanente e, sim, permanência. Ah, que incrível sensação de leveza!
Saber que “O meu fim é Santa Maria, castelo de passarinhos…” é o suficiente. Não interessa quando ou como chegarei. Se é meu fim, lá estarei no momento devido, no tempo que há de ser, e é difícil explicar o quanto isso é o bastante. Como isso me faz leve.
“E enquanto não chego, vou-me distraindo à minha maneira, ora rindo, ora gemendo.
Os pequenos acontecimentos avultam aos meus olhos, os grandes se amesquinham.
(...) E vou andando…
Se alguém pergunta quem sou, respondem todos: – Não se sabe. Vive dizendo que está indo para um castelo de passarinhos…”
Uma leitura curtinha.
ResponderExcluirCurtinha, mas profunnnnda igual cascudo de mãe...
ResponderExcluirEu fico parando nas frases... Não canso de me abismar que a gente se descubra pelas palavras dos outros, que se forme com elas, que as carregue como sendo nossas. Esse poder da arte,da escrita me fascina.
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