Motim


A curiosa rebelião íntima começara na madrugada. O sono sentou na beira da cama a pedir histórias. Ficou no limbo, sabendo-se dormindo e alerta concomitantemente. Escolheu o sonho e o trocou pelo meio, cansaço dessa coisa repetida, queria algo inédito e não havia. O corpo bem ajeitado no colchão era um insulto para a cabeça, que não achava jeito no travesseiro. Os pés aquecidos por meias eram um ultraje para as mãos geladas. Provocação atrás de provocação. A guerra declarada. A curiosa rebelião íntima avançava no dia que insinuava clarear. O sono, já deitado de tanto esperar histórias, repelia os sonhos, temporadas reiteradas, de produção duvidosa. O corpo dolorido pela falta de movimento ameaçava a cabeça, enfim bem disposta com o travesseiro. A costura da meia, pegando no dedo mínimo, injuriava os pés e as mão não faziam tenção de resolver a situação. Incômodo atrás de desconforto. O difícil armistício. A curiosa rebelião íntima ganhava volume com o frio. Buscou o conselheiro. A água quente do chuveiro dissipou os rebelados e o sol promissor fez com que se aquietassem. Os curiosos rebeldes íntimos agora espreitam uma nova oportunidade.

 

Comentários

  1. Menina, descreveu minhas noites de insônia e rebeldia do corpo.

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  2. Tia, essas guerras interiores são as piores. Amei a imagem do sono sentado na cama pedindo histórias!

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