O buraco da existência
Apareceu sem mais nem menos em um canto do jardim
Pensando bem, talvez se trate mais de desaparecimento
do que de aparecimento
Um buraco é, afinal, ausência
Começou menor e foi ficando mais amplo
Quão ampla pode ser uma falta?
Não conseguia distinguir o que havia dentro do buraco
Se há algo, deixa de ser buraco e passa a ser caverna?
Imaginou que de dentro daquela escuridão poderia sair
uma árvore
Não, não tinha nenhum indício de que havia vida ali,
mas imaginar é ver coisas inexistentes, não é?
Passou a visitar o buraco
De xícara na mão, intrigava-se como, para os seres mínimos,
o orifício era apenas o avesso de um morro
Trivialidade da falta
A cadela, um dia, enfiou o focinho, muito provavelmente,
apenas para mostrar-se solidária naquela investigação
Percebendo que era somente um buraco, sem ratos, sem
formigas e sem minhocas, mirou a dona como quem diz: “é só isso mesmo”
Suspeitou que a cachorra não entendia que deitar a
vista no buraco a fazia pensar na existência
Escura
Avessa
Trivial
Numa manhã de sol forte
Sentou-se no batente de frente ao buraco
Pensamentos entristecidos e memórias envelhecidas
chocavam-se em seu corpo sussurrando que a vida era lamento
O breu do buraco parecia confirmar que a tristeza rege
o universo
De repente, um pequeno besouro em fuga adentrou a escuridão
Deu-se conta que o buraco da existência era também
Esconderijo
Sombra
Abrigo
Imitando a Rapha e colocando foto. Porque as palavras não bastam, mas, principalmente, porque fica mais bonito.
ResponderExcluirPor que só redor do buraco só tem beira.... rsrsrsr
ResponderExcluirQueria dizer que não pensei nisso, mas seria mentira... hahahaha
ResponderExcluirAmei. Oh, texto foda!
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