Exorcismo



Chega!

Vai-te daqui com tuas exigências

Abandona os desejos de tornar o outro aquilo que tu, sequer, insinuas ser

Deixa que meus silêncios sejam povoados de ondas calmas

Cala teus gritos em mim

Permite-me ser outra coisa que não régua

Medir os outros é me auto-medir

A baixeza deles é também minha

E, se não for, melhor

Alimento meu orgulho vão

 

Segue teu rumo voz irritante

Abre espaço para levezas

Para de comprimir minha cabeça

Desaperta o maldito coração

Alcaliniza o estômago

Já há ácido demais, aqui e lá

 

Açucara os desgostos

Tempera-os com a esperança

Apaga as memórias dos erros – como fizeste tantas vezes com os meus!

Desenrola-me dessa corda grossa que eu mesma trancei

Nós somos os trançadores dos nossos nós

E tu achando pouco, joga-me na cara as verdades e ri

 

Tua sorte é que ainda posso escrever

Sinto que te esvais a cada letra

Tic Tic Tic

Te esconjuro poeticamente

Em nome do poema, do conto, do livro

Amém

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(Saber o que o outro pensa, faz diferença...)