O deus-caju
O deus-caju
A professora perguntou para a menina qual
seria o formato de Deus. Ela, com tranquilidade respondeu:
- Ele é como o caju! Sorriu e
voltou a desenhar sua casinha.
A professora intrigada pediu
explicação:
- Como assim, Deus é uma fruta?
- Não é uma fruta, Ele é A fruta.
Disse a garotinha de forma enfática no A. Vendo que a professora não entendia
começou a explicar enquanto enchia sua casinha de flores no jardim:
- Bem assim. Lá em casa não temos
muita comida. Sempre comemos feijão com farinha. Minha mãe corta caju por cima
e o feijão fica uma delícia. E na mesma época do caju temos o suco dele que é
adoçado com o açúcar que compramos com venda do próprio. Vovó faz doce de caju, então
temos sobremesa nesse período. Outra coisa fantástica é a surpresa que ele nos
revela, depois de comido, parece que tudo acabou, e quando você acha que é o
fim, ainda podemos contar com a castanha. O dia de assar castanha é lindo. A
família se reúne e todos sentam no chão contando histórias. Nós, as crianças
podemos ficar juntas dos adultos e fazer de conta que somos grandes. Depois que
a castanha está assada, e o aroma delicioso toma conta do quintal, sentamos ao redor
daquela montanha, cada pessoa pega uma porção e começa a quebrar. Podemos comer
à vontade, mas nos controlamos para que depois ela possa ser repartida de forma
justa, como nos alerta a vovó. Então faremos da castanha a farinha que usamos
para tomar no café da manhã, para colocar em cima do doce de caju. E para
finalizar, em nossa casa de taipa sempre tem o cheiro do barro molhado, então
nunca é cheirosa, mas no tempo do caju nosso lar tem cheiro de flores. Então,
não vejo outra coisa no mundo que possa ser Deus, senão algo que alimenta sem
distinção, faz surpresa boa no final,
reúne, alegra e cheira bem.
Mas q lindeza, De! Eu amei esse Deus caju... senti o gosto e o cheiro, senti uma leveza boa...
ResponderExcluirOh Rapha, o conto me veio na hora do almoço saboreei o caju sentindo todas essas coisas.
ExcluirDê, eu fiquei com impressão de estar ouvindo um conto indígena.
ResponderExcluirNão tinha percebido, Ritinha. É bem isso né? A ancestralidade sopra nos nossos ouvidos e a gente nem percebe.
ExcluirO nordeste cantou aqui dentro e as lembranças dos pés de caju da minha infância!
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