Tesouros

 

Reparou na sujeira entranhada nas unhas. Pensou que a unhas grandes eram como bolsas naturais que tentavam guardar recordações táteis dos lugares em que passava. Tinha essas ideias e sentia-se importante. Como se fosse um descobridor de novos mundos. Já tinha aprendido, porém, que suas descobertas eram de pouco – nenhum? - reconhecimento social. Ainda criança reparou que os pais as tomavam por gracinhas infantis, perdendo de vista a profundidade que residia nelas. Por sorte, entendeu que a falha era deles e não sua e seguiu o caminho de desbravar pequenos tesouros deixados à vista no cotidiano. Havia desenvolvido a tese de que os tesouros desenterrados são os mais difíceis de serem encontrados. Entendia que o que estava escondido sempre tinha um mapa, um código cifrado ou uma indicação qualquer de como ser achado. Mas, aqueles que se mantinham a céu aberto contavam apenas com a coragem e inventividade dos que se aventuravam a procurá-los.  Muitas vezes, o brilho intenso da luz oculta melhor do que a escuridão. Olhou novamente para o acúmulo embaixo de suas unhas e lamentou que era hora do almoço. Era preciso esvaziar a ‘sacola corporal de memórias’ em nome da higiene.

Comentários

  1. Escrevi esse para mandar para o Criacionices, mas entendo que o blog é meu baú de rabiscos :)

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  2. As luzes que ocultam, isso me deixa muito intrigada...lembro de uma aula de antropologia em que a professora pediu para que andássemos pela UFC de olhos fechados e tentássemos nos situar e não conseguimos. Ela disse que isso se deu por que estávamos cegos pela luz. Disse que deveríamos desvelar a escuridão.

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    1. Que 'experimentação' massa...

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    2. Pensei em Didi-Huberman (Sobrevivência dos vaga-lumes), depois li o comentário da De e o pensamento ficou mais forte. Esse "rabisco" me lançou numa viagem cheia de linhas soltas... rsrs

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    3. Não conheço, Rapha! Dei uma googada aqui e ele tem coisas bem interessante! Valeu a dica!

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