Prosaica
Sou pró muitas coisas
Mas sou, principalmente,
prosaica
Mesmo na poesia sou prosa
A banalidade é minha
companheira
Entre pitanga e bluberry,
fico com a primeira
Gostos refinados não
combinam com minhas heranças ancestrais
Negros, negras, indígenas
e europeus falidos.
Requinte para mim é bijuteria
Prefiro prata a ouro
O ouro brilha demais
O acinzentado da prata não luta com o colorido do mundo.
Tenho as solas rachadas dos
que gostam de andar descalços
Vejo nelas que o sertão é
que me põe em pé
Saltos altos me imprensam
os dedos e machucam o calcanhar
Eles sabem que, por onde
ando, eles engancham, se torcem
Minha elegância tem jeito
de menina da roça
Se se enfeita muito, acham
que é festa junina.
Sou comum da cabeça aos
pés
Uma a mais no sem fim
humanos
Alguém único na multidão
de únicos
Comungo unidades,
diferencio-me em bando.
E, não me interprete mal – embora este sendo um direito que lhe cabe-
Não há ressentimento em
ser prosaica
Tampouco há vergonha
Prosaica só é adjetivo ofensivo
para quem não tem espelho
E, há tempos, tirei os
lençóis do espelho
Mirei fundo o amarronzado
dos olhos
Dei-me conta que se eles
fossem verdes ou azuis destoariam
Fariam de mim um bicho exótico,
desses que as pessoas querem ver nos circos
Não! Do circo, prefiro a
pipoca
Pipoca é a foto do meu
cabelo quando eu envelhecer.
Tia, dos melhores q eu li! Tem um q de Manoel de Barros e toda uma originalidade, amei!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirTia, é uma "resposta" ao zum zum zum que ficou na minha cabeça desde sua carta. 😍
ExcluirEspetacular. Simplesmente amei. Tão você.
ResponderExcluirMe bateu de repente,sem muita mediação 😍
ExcluirChorei, porque lembrei do quanto você me ajudou e ajuda a tirar os lençóis do espelho.
ResponderExcluirNós vamos tirando os lençóis dos espelhos uma das outras. Vocês me ajudam a achar marrom do olhar bonito.
ExcluirO mundo é tão melhor por sua “prosaiquice”!!!!!!! Poema-espelho, lindo!!!
ResponderExcluirAh, Tê, que delícia encontrar teu comentário aqui!!
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