Intempérie
Terceiro dia de chuva ininterrupta, à exceção da variação de intensidades –de garoa fraca à temporal– nada mudava, o céu desaguava. No começo foi empolgante, fazia muito calor e uma chuvinha foi boa para refrescar. No segundo dia estava inquieto, irritadiço, aquele pinga-e-molha não acabava nunca. No terceiro cedeu ao tédio e à melancolia, a monotonia das cores do dia, aquele barulho que não parava, seus passeios postergados, tudo o chateava.
Ouviu ela falar “choveu durante quatro anos, onze meses e dois dias”, numa tal de Macondo. Olhou bem pra cara dela e quase a odiou, isso era mais do que a vida dele até então (ele achava)! Não, não. Nem mais um dia! Custava o sol dar o ar da graça, só um pouquinho?
Aquela grama, estava mais pra mato mesmo, não secava e sentia um pouco de aflição, segurava a cagada até onde podia, sentia-se mal humorado com isso. O piso, já liso, ficava ainda mais escorregadio, uma armadilha que o deixava tenso. Parecia uma coisa, bem na hora de passear a chuva apertava!
As árvores, que tanto gostava, ficavam lindas na chuva, parecia que lhes fazia muito bem aquela abundância. Pensando nisso sentiu-se um tanto mesquinho, mas não podia evitar, era paciente, mas aquilo era um teste e tanto, três dias inteiros, sem trégua! “Choveu durante quatro anos, onze meses e dois dias”, Macondo que se danasse afogada no lodo, ai que ódio!
Se enfiava na casinha como forma de protesto, mas Deus nem via. Dormia, comia, segurava a cagada e abanava o rabo para qualquer pouco carinho. Deus via, achava graça e chovia.
Lindo demais, esse menino, lembrei do Enzo, do livro A arte de correr na chuva. Um livro bobinho que me fez chorar...
ResponderExcluirImaginar o pensamento dos cães é um passatempo maravilhoso. Amei o Samba (?) mandando Macondo se lascar ....
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