Há dias de sermos ausência
Não nos abraçamos naquele dia. Não porque estivéssemos distantes ou coisa parecida, mas estávamos reclusos em nós, lambendo nossas feridas, não houve jeito. O silêncio se fez. Não porque faltassem palavras, mas estas estavam muito emocionadas, não tinham condições de se expressar. Não sustentamos o olhar. Não por vergonha ou medo, mas pela total impossibilidade de o fazer.
O dia, em sua morosidade, custou. Talvez pelo desejo que passasse logo, contrariou. Arrastou-se como se todo o cansaço do mundo se concentrasse ali. Toda a pausa da vida, todo hiato.
Naquele dia não pudemos, não fomos, não conseguimos, não. Enclausurados, cada qual em sua dor, em sua saudade, em seus sentimentos contraditórios. Um nó cego na garganta. Uma mão firme apertando o peito, toda a areia do mar a brincar nos olhos. Nesse dia...
Nossas feridas, muito sensíveis, abertas e mal protegidas, nos afastavam do mundo. Recolhemo-nos, como os velhos fazem em dias de friagem. Cobrimos a cabeça, cerramos os ouvidos e esperamos o dia passar.
Quando a noite chegou não trouxe brisa. Não trouxe a fresca, não trouxe nada. E nos conformamos, como se conforma o sapato ao pé, depois de muito uso. Há dias de sermos ausência. Não nos abraçamos, mas, em algum momento, as mãos se esbarraram e se seguraram, só porque estavam ali. Elas sempre estão ali.
😢 Esse texto me fez pensar nas diversas formas de doer, de abraçar e de estar lado a lado presente_ausente.
ResponderExcluirSim, há mtas formas possíveis, variadas possibilidades...
ExcluirEle me lembrou aqueles casamentos gaiolas...
ResponderExcluirPenso q, em alguma medida, todos o são. O q muda é o tamanho do vão da portinhola e se está existe ou não.
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