Dicção do afeto

 


aquela pronúncia do erre, quase uma respiração, quase um suspiro

(“para quem quer se soltar”)

aquela vontade súbita de ir para casa, voltar à casa

(a casa que não é mais)

aquela nostalgia a espiar as bordas do vazio, angústia

(“ferve em seu cofre gelado, a voz vibra e a mão escreve mar”)

a casa em mim, e tão intrincada de ti, da grade baixa ao muro alto

(vontade do seu cheiro, das paredes ásperas, da presença tranquila)

e o erre, que era então um par de asas para ir pra casa

(“invento o cais e sei a vez de me lançar”)

esse jeito, de quase suspirar ao falar, como um alívio da alma

(vontade doída de voltar para o que já não há)

a casa, minha íntima de uma vida, todos os seus quartos foram meus

(“me arrastar até o mar, procurar o mar”)

 e esse jeito de pronunciar, que é a própria casa no ar

(“invento o mar”)

 

 

Comentários

  1. Rapha sempre me convida a voltar a um lugar no qual nunca fui. Não sei como, mas sempre me sinto na tua garupa.

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  2. Amei esse poema. Li-o e senti que ele era uma música da qual ainda não aprendi a melodia.

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