“¿Qué poemas nuevos fuiste a buscar?”
Olhando para aquela imensidão, pensou em Alfonsina, “dormida, Alfonsina, vestida de mar”, sentiu uma espécie de compunção e uma saudade pungente de si. “Sabe Dios qué angustia te acompañó. Qué dolores viejos calló tu voz”.
Antes de serem apresentadas, há muitos anos, ouviu falar dela, coisas vagas. Ficou curiosa para conhece-la, uma curiosidade meio displicente, nem procurou saber muito antes do encontro. Na verdade, não foi um encontro combinado, antes, um esbarrão no corredor pouco frequentado, e o que deveria ser uma folheada rápida, para sanar a curiosidade, foi um arrebatamento à primeira vista. “Ponme una lámpara a la cabecera; una constelación, la que te guste; todas son buenas, bájala un poquito.” Ficou algumas horas submersa ali.
Quando saiu já era escuro, seus olhos ardiam, seu rosto queimava, Alfonsina a deixara desnorteada com sua simplicidade intensa. Entrou atrasada na sala, procurou as figuras mais conhecidas, sentou-se, mas demorou a chegar. Quando, por fim, o fez estava tranquila e lúcida, como nunca antes. “Yo soy como la loba. Ando sola y me río del rebaño”. Dali foram à noite, à esbornia. Cerveja barata, música batucada na mesa, risadas e Alfonsina deslindada.
O tempo é matreiro, brinca com as gentes e gargalha da perplexidade, ante sua inabalável condição de impermanência. Por anos, Alfonsina abrigou-se num tempo, em algum lugar nela, cujo caminho esquecera, “si él llama nuevamente por telefono le dices que no insista, que he salido”. No entanto, estava outra vez ali, forte e intensa, velha amiga, diante do mar.
Quem era, quando conheceu Alfonsina? “Di que me he ido”
Alfonsina a reconheceria agora, com seus olhos camuflados e a alma cindida? “Una voz antigua de viento y de sal. Te requiebra el alma y la está llevando. Y te vas hacia allá como en sueños. Dormida, Alfonsina, vestida de mar”.
Quem o saberia...
Terminei o texto querendo mais. Uma delícia. Apaixonada fiquei por Alfonsina.
ResponderExcluirGosto desse teu traço/estilo/jeito de fazer textos que parecem uma colagem,um recorte de um tempo que tem um cheiro de atemporalidade.
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