A visita

 


 

Da primeira vez que a Morte me visitou, não esperava sua chegada, embora sempre soubesse que viria.

Servi-lhe um café ruim, fraco e frio, coado no espanto.

Ela o tomou, sem careta ou reclamação, e limitou-se a comentar, educadamente:

“Você faz melhor do que isso”.

Desviei os olhos envergonhada, era verdade.

Depois, quando vinha, já não me espantava. Eu seguia, sem esperar sua chegada, e lhe passava um café decente, tão logo se sentava.

Ela o bebia em silêncio e assim permanecíamos, caladas na intimidade das palavras desnecessárias.

Agora, quando me visita, olha de soslaio a bagagem depositada próxima à porta. Não a toca, não lhe pertence, nos respeitamos mutuamente.

Da recente vez, olhou pela janela dos meus olhos, fazia uma vida linda, sorrimos em cumplicidade.

Talvez, da última, cesse essa chuva que cai em meu silêncio, ausências.

Ou, quem sabe, só tomemos um café melhor. Quem sabe...

 

Comentários

  1. Eita, tia, que texto pauleira... E, como sempre, de uma boniteza poética impecável.

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  2. Taí um texto marcante demais da conta. Um papo com D. Morte. Amei.

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