Diorama
Esperou a tarde inteira, agachado sob o abacateiro. Quando cansava, esticava um pouco as pernas, deitava a cabeça sobre os braços cruzados e apoiados nos joelhos. Às vezes, riscava o chão com um galhinho seco, umas letras, uma camionete com a caçamba carregada, um cavalo. Precisava melhorar o cavalo, tinha vez que parecia um cachorro, caprichava mais na crina e no rabo. A tarde arrastava, ele esperava.
Passou a hora do calor, do sono, da preguiça. Passou a hora do café. De longe chegava uma brisa fraquinha, nem refrescava direito, mas já trazia o cansaço do sol, o cheiro do lusco-fusco. Outra tarde inteirinha, esperando sob o abacateiro, na borda da estrada que atravessava a cidade. Nem um passarinho a lhe fazer companhia, quando muito, uma formiga desorientada, perdida das companheiras, tinha dó, depois raiva e, aí, dó de novo, por fim, a esmagava com uma mãozada. Pensava que, se Deus quisesse, também fazia isso com a gente, mas Deus era bom, todo mundo repetia; talvez o capeta, que era ruim, o fizesse, mas logo achava que não. Sendo ruim, o tinhoso não daria uma mãozada, arrancaria uma perna, depois outra, um braço e por aí ia, só pra ficar rindo da gente se estrebuchando no chão. Talvez não fosse o caso de ser bom ou ruim. Talvez eles tivessem mais o que fazer e nem ligassem para um bicho bobo feito gente.
Esperou, outra tarde, mais um dia. Já ia para o quinto seguido. Começava a desanimar. Estoicamente agachado, horas a fio, um tempo desmedido. Da terra batida subia uma poeira fina quando tocava um ventinho, raro. Nem barulho nenhum, só o graveto raspando no chão, só um suspiro mais fundo. Olhava pro céu, pra um lado e pro outro, firmava os olhos no mais longe que podia, nada. Olhava pro nada e se resignava. Logo aprenderia a esperar.
Tia, eu 'vi' toda a cena. Adorei a reflexão teológica e me angustiei com a espera. Acho que nunca aprendi a esperar...
ResponderExcluirTia, será q a gente aprende um dia?
ExcluirDizem que a esperança é a última que morre, mas esperar por essa esperança é que é difícil 🤪😂
ExcluirEu sou um poço contraditório, me nutro na esperança, mas não sei esperar, me agonia e penso que eu tenho de tomar as rédeas e ir lá e pegá-la com as mãos. Deu-me um desespero de sentir a espera dessa pessoa.
ResponderExcluirLogo tu, pttl? Kkkkkkkkk
ExcluirNum é? uma pessoa que é um poço de paciência com o mundo...estranho...rsrsrsrsr
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