Orgíaco

 


Porque conhecia seu ponto fraco, falou bem perto do ouvido, dando um jeito de lhe roçar a nuca com a barba, enquanto o ar quente da respiração chegava até seu pescoço exposto. Sim, era um golpe baixíssimo, mas esta não era uma guerra ética, nenhuma o era. Observou, deliciado, a tentativa débil de disfarçar o impacto, os pelos do braço arrepiados, uma leve inclinada de cabeça, sabia cada sinal, era fluente em suas sutilezas.

Na segunda investida, deixou a mão em sua coxa, depois de uma leve pressão, enquanto repetia o ritual, demorando-se um pouco mais. A displicência calculada surtiu o efeito esperado, um tremor quase imperceptível fez com que ela se segurasse no braço da poltrona, aquele jogo não era para os afoitos.

Quando a luz fraca acendeu, tratou de segurar sua mão, puxando-a para diante de si. Seguiram o fluxo da fila e logo estavam a caminho do estacionamento. Andavam rápido, a respiração curta, os olhos que se evitavam, havia uma tensão crescente, dessas cheias de tentáculos, envolvendo os dois.

No carro, foi a hora da revanche. Enquanto ele dirigia, ela brincava com o lobo de sua orelha e fazia de conta não ver a excitação que provocava, quando pressionava um pouco. No semáforo fechado, a mão audaciosa resvalou em seu membro rijo sob a calça, foi sua vez de sentir o arrepio atravessar o corpo. Ela era ótima no contra-ataque, tinha que admitir.

Àquela altura, o jogo igualado, os dois encurralados no desejo explícito, mal chegaram ao sofá. Sem sapatos, alguma roupa no chão, outras ainda nos corpos, feições desfeitas de excitação e urgência. A espera excruciante daquela satisfação ditava o ritmo alucinado, mãos, bocas, puxões, ofegâncias.

Num susto preciso, ela de quatro e ele explodindo, dois bichos indomados, se procurando e se negando, desmedindo cada dominação e entrega. O gozo e o grito atordoando os sentidos. Essa era uma guerra de vencidos, um jogo que terminava empatado, com gosto de vitória e anseio por outra rodada.

Comentários

  1. Uau, que fogo! Adorei, muito bom mesmo.

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  2. Se todas as guerras fossem assim, eu seria árdua defensora do belicismo.

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(Saber o que o outro pensa, faz diferença...)