Trilogiazinha
I
A cama estendida pela manhã
guarda os restos da noite...
O sonho esquecido,
o gozo interrompido,
o sono de sustos leves.
No travesseiro, um cheiro misturado.
Banho, suor, perfume.
No colchão, o fundo do corpo cansado.
No lençol, as dobras e amassados das pernas emaranhadas.
A cama estendida pela manhã...
Tão lisa, tão fresca e renovada.
É a possibilidade do dia,
o dia que espreita a noite, e espera por ela,
ansioso por refúgio e por nós,
estendidos na cama, absortos.
II
Eu sou sua impossibilidade.
A contenção do desejo.
O medo do (ir)realizável.
Eu sou o trecho da música que não consegue lembrar
e o acorda na madrugada incompleta.
O susto previsto.
A certeza do fracasso e, ainda assim, a tentativa.
Eu sou a incerteza sem dúvidas, sem hesitação.
O perfume que entrou no elevador
e inebriou seu dia de presença ausente.
Eu sou os três pontos finais...
III
Ama-me como ontem,
sem certezas, sem presa, sem pudor.
Ama-me como ontem,
sem saber, tateando, arriscando.
Ama-me como ontem,
com todas as ilusões, todas as esperanças, todos os desejos.
Ama-me como ontem...
Hoje é um sopro,
uma linha tênue, um cansaço só.
Ama-me como ontem e basta.
Que trio eletrizante! nossa, fiquei sem fôlego. adorei
ResponderExcluirSão antigos, estavam perdidos por aí. Agora, foram devidamente agrupados.
ExcluirEles não foram 'gestados' juntos?! Isso só reforça a força das palavras, sua potência de se combinar e de nos recombinar (ou nos desconjuntar) também. Adorei.
ResponderExcluirNão, tia. Há uma diferença temporal significativa entre eles, porém, tampouco estão em ordem cronológica, aliás, acho q não há ordem aí, qq combinação seria possível. À mim, está pareceu fazer maus sentido qdo os juntei.
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