Terror

 Esse ódio guardado em mim. Esperando a chance de transbordar. Quebrar os diques, jorrando a água suja misturada com pedaços de cimento. O cimento o silêncio. Da falta de inocência. Da aceitação da injustiça que tamponei com um sorriso. O cimento frágil do asco. Do mundo. De mim.

Não me cutuque. Essa flor delicada é venenosa. Exala podridão por detrás das pétalas coloridas. Engole besouros distraídos. Veneno. Escorrendo. Entranhado nas veias. Adentrando tuas entranhas fantasiado de perfume doce. Respira-me fundo se ousares. Sente a crueza a devorar-te de dentro para fora. Um ciclone estourando teus vasos sanguíneos. Sangue.

Sing a song. Faz de conta que te ponho a ninar. Dorme neném. A cuca não vem. Já está. Aqui a soprar palavras ritmadas em teu ouvido. O som que te conforta, logo te aterrorizará. Vem comigo. Sou sereia. Sirena a puxar-te para as profundezas marinhas. Chacoalha teu corpo uma última vez. Deixa que o ar fuja dos teus pulmões em meio a tua desesperada vontade de subir. Descobriu agora que não és peixe? Entendeu o que a beleza pode esconder? É tarde, é tarde. Entender não basta, não é?

Antes de desfalecer completamente, olha tua sombra refletida na minha íris. Quem és? Sou eu que tu és. Eu. Teu terror. Tua água. Tua flor. Tua mãe. Tua infância. Todo o nada que te afoga.


Comentários

  1. Pqp, q texto foda! Ouso achar q é o teu melhor até aqui. Amei. Grata por isso.

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  2. Ah, tia. Eu que agradeço por você dar sentido(s) às minhas 'escrivinhações'.

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  3. Que delícia! Amei. Muito! Embriaguei me

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