Pensamento pequeno
Quando eu era criança quis, muitas vezes, ter o tamanho de formiga. Até hoje, as miudezas me atraem mais do que as enormidades. A miudeza guarda, no meu imaginário, uma delicadeza impossível de caber no que é grande. Acho que é por isso que gosto que chamem meu nome no diminutivo. A imensidão tende a me assustar. Revela sem pudor nossa insignificância. O que é menor, ao contrário, fala do inalcançável sem nos ofender, sem afrontar. Será que, se tivéssemos desenhado deus como um ser bem diminuto, as religiões matariam menos? Por que a importância de um ser precisa ser expressa em agigantamento? Gosto mais de deus do que de Deus.
Às vezes, ainda sonho em ser mínima. Andar pelas folhas secas largadas no jardim como se fossem dunas. Escalar o filete de grama amarelada do sol. Ser gente-formiga. Não como aquele super-herói. Nada de comandar os exércitos de formigas. Os menores não têm exércitos, só irmãos e colaboradores. Seus impérios são feitos de pó. Quando uma chuva ou um pé os desfaz, cada pitoquinho corre a salvaguardar a integridade corporal. Não há motivo para se preocupar, quando se sabe que uma casa majestosa é feita de restos. Quem é aformigado habita um mundo onde toda e qualquer coisa merece apreço. Peço a deus que, a cada dia, eu decresça um pouco mais. Que vire calango. Embuá. Formiga. Pó. Amém.
Uma oração para todes. Amém.
ResponderExcluir"Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não pisa no formigueiro"
ResponderExcluirInevitável não pensar n'O mundo dos pequeninos! As miudezas são da maior importância... Poeira, se mto, assim seja.
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