Perco poesias
Perco-as nas grades das agendas e em seus vãos
E para a preguiça descarada das redes
Perco-as na fraqueza da memória
E olhando a Lua a brincar nas nuvens
Perco-as em meio ao sangue das notícias
E para as tantas fomes que me habitam
Perco-as pelas dobras desconhecidas em mim
E para a incessante luminosidade do celular
Perco-as mesmo aqui, diante do papel
Quando correm e se travestem do que me escapa
Perco-as frente ao espelho
Ou na poltrona
Perco-as porque os vinhos não vêm com folhas e caneta
E quando a existência me atropela sem misericórdia
Perco-as por ninharias
E porque duvido que a poesia e a vida sejam siamesas
Perco-as para o sono
E nunca as sonho.
Meu maior legado poético está lá onde não sei
Natimortas, minhas palavras paradas no céu do meu
corpo
Sobrevoando meus órgãos mudos
O fim desta poesia perdeu-se também
Procura-se
Dou recompensa
Não pago bem.
Sempre perderemos algumas, as mais caras (supomos, justo pq perdidas), as raras, as potenciais. Inventamos recursos e estratégias para salvá-las, bobagem. Ainda bem q essa se achou, me achou.
ResponderExcluirVerdade, tia. Perdemos e perderemos, fica o vão para outras se acharem (e com sorte acharem outras pessoas)
ResponderExcluirAos se perderem libertam quem as perdeu para as novas que virão. adorei
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