Epifania
Na manhã claríssima, de um azul sobrepujante, o silêncio da casa vazia acolhe meus pensamentos galopantes, corceis selvagens e ariscos, enquanto o café consola minha alma e meu corpo cansados. Restos de uma noite superficial.
É assim, desprevenida, que dou o play e o impacto daquela voz me lança o belo na cara, esfrega-o, intensa e despudoradamente. Comovo-me, sou fraca para o belo. Qualquer pouco me emociona. O belo, assim tão nu e inteiro, deixou-me compungida. Provocou-me de maneira acintosa.
Aceitei a provocação e me deixei levar. Fui, cada vez mais entregue ao cataclismo eminente, embrenhada nos acordes, nos veludos, graves, metais estridentes. Fui, cada vez mais enovelada pelo conhecido renovado, dito por outra voz.
A ocupação dos espaços, e de mim, por aquele belo avassalador, cada vez mais excitante e poderoso, fez-me desejar a noite, não é que a manhã estivesse aquém daquele deslumbramento, mas desejei a noite. A noite e um vinho tinto, seco e com muito tanino, ou um bom uísque. Eu, que não fumo, desejei um charuto.
Senti-me febril. Todos os sentidos inebriados e o corpo entorpecido como depois do amor, de um gozo arrebatador. Desconfio que senti como a criança, pela primeira vez diante do mar; ou o passarinho, em seu voo inaugural. Sou fraca para o belo, mas, em mim, a coragem se fez mais abusada que o medo, e eu me deixei levar por aquele.
Que música foi essa?! Uma descrição bela sobre o impacto do belo na gente!
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