Fugas

Fugir

Ou me esconder no fundo da rede

No brilho da tela

Que faz opaca minha existência

Silenciando o futuro e o passado

Eu reificada no presente

Imóvel

Parte da mobília da casa bagunçada

 - Que sentido tem retirar a poeira? -

Às vezes, desconfio que não sei inventar sentidos

Ou sei e eles, insuficientes, me frustram

Esvaindo-se sem aviso prévio


Converso com uma amiga

Ela em fuga como eu

Duas solitárias que se reconhecem

Dedos quase se tocando em trilhas que nunca se cruzam

Lembramos, saudosas, de nossas paixões

Uma faísca da vida ressurge ainda sem força

Elaboramos teorias sobre nossas dores

Gotas d’água para quem estar morrendo de sede


Ligo o computador

A folha alva me abraça

Diz no meu ouvido “joga-te em mim”

Eu, obediente, cuspo-me em letras bem alinhadas

Retas e curvas de significações imaginadas e feitas reais

O mistério da linguagem onde cabem todos os contornos do caos

Redesenho-me por traços banais e frágeis

Respiro aliviada

Consciente que o desejo fuga não tardará a voltar.


Comentários

  1. Identidade que chama? Transformando o estranho em letras conhecidas.

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  2. Dos poucos desejos q nos faz, de fato, continuar...

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  3. Em meio às fugas solitárias,sou grata por saber que nossas mãos se tocam.

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(Saber o que o outro pensa, faz diferença...)