Escrito de 13/05/2022 - Para Denise (nunca enviado)

Tantas vezes, te disse para viver o presente

Eu presa em um futuro fúnebre

Sentada inerte a convidar os urubus para estar em minha companhia

 

Pedaço de mim morreu em algum momento do turbilhão

Anestesiada

Contrariei Newton

Não reagi

Só fiquei

Seguindo, inercialmente, movimentos previamente iniciados

 

Olhei, admirada, meu eu de lágrimas secas e razão oca

Talvez eu fosse insensível

Talvez "forte"

Provavelmente, eu era só mais uma covarde de armadura

Te perdendo na minha perda de mim

 

Me pergunto sobre os vazios

O que fica de nós quando nos tornamos ausência

O sem sentido nublando as possibilidades de significação

A vida com menos cor

 

Estou diante do abismo

Tenho medo de altura

Quando minhas pernas tremerem incessantemente

Vou sentir sua mão na minha?

Eu te sinto agora

Uma presença fugidia

Que sopra em mim a força que sempre foi tua marca

Teu batom vermelho

Tua ousadia apaixonada

Tuas lutas raivosas

 

Os urubus seguem comigo

Abrem as asas ao sol

Sinto vontade de ser como eles

Parar sob qualquer toco e viver como se viver fosse só uma coisa a mais

Mas, tu em mim, me impede

Me convida a ser Janaína

A correr na mata na tua versão indígena de olhos cor de jabuticaba

Me promete que esse ainda não é o fim

Que vamos no barquinho que você me deu de aniversário atravessar muitos mares.

Minha amiga querida

Eu não sei rezar

Mas que assim seja!


Comentários

  1. Anônimo3/6/22

    Tia, eu queria te dizer q "o q fica de nós qdo nos tornamos ausência" é, no começo um nada, depois um mistério, para em seguida ser um arremedo, mto do mal feito do, q fôramos, mas isso não vou te dizer. Vou falar q o q fica é o amor q se constituiu e a saudade, justo pq há amor e proporcional à ele. E recorro a Drummond:
    "Por muito tempo achei que a ausência é falta.
    E lastimava, ignorante, a falta.
    Hoje não a lastimo.
    Não há falta na ausência.
    A ausência é um estar em mim.
    E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
    que rio e danço e invento exclamações alegres,
    porque a ausência, essa ausência assimilada,
    ninguém a rouba mais de mim."
    Que a arte seja tua reza.

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    Respostas
    1. Tia, obrigada. Eu também entendo que o amor fica, pois ele é mesmo inefável. Ele transmuta as coisas, assim como ela transmutou as coisas em vida e, agora, transmutou-se para aquilo que me escapa (da razão, mas não dos sentimentos).

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    2. A ausência, inicialmente, é uma presença dolorosa. É um calo no calcanhar de um sapato que não se encaixa mais. Toda vez que a gente dá um passo, faz um movimento, o sapato escorrega, repuxa aquele mesmo lugar. A gente sai mancando, bota um bandaid, uma pele de tomate, qualquer receita que a gente já conheça pra uma ferida não ficar roçando. Ás vezes até carrega o sapato na mão, o pé tão esfolado...Não sei quando a ausência vira uma saudade acompanhada,não tem momento certo e nem é um momento só. Quando a gente vê tá lá a saudade, só que acompanhada. Por tudo que a gente foi/é com o outro. É saudade porque se foi, é acompanhada porque também continua. Quem foi se transforma na gente mas a gente se transforma no outro. E assim o amor é como o pé de uma bailarina, ferida que vira calo que vira passo que vira dança. Estamos aprendendo juntas essa coreografia. Amo vocês.

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    3. Que lindeza, Babita. Ferida, calo dança. Nós bailarinas. ❣️

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(Saber o que o outro pensa, faz diferença...)