Hora precisa
– I –
Àquela hora em que os bichos noturnos voltam da caça, uns de barriga cheia, outros com a fome acumulada há três dias; e os diurnos acostumam as pupilas enquanto não é de todo claro, atentos à força e instinto; espreitava. Incólume, desde muito antes. Sequer lhe tremiam os membros ou oscilava o corpo. Tesos os ombros, soltos os pensamentos.
– II –
Ao sol, sob um céu azul infinito, mantém fechados, os olhos, e abertos os punhos. Sente o calor na pele. Estica-se. Faz menção de levantar-se, desiste. Sob o sol, ao céu azul bonito.
– III –
Mais tarde, quando os cascos da noite se fizerem ouvir, sentirá o apaziguamento, espera. Talvez seja a derradeira, deseja. Ofegará enquanto se esvaírem os restos de si. Sonhará, talvez. E chorará, não o leite derramado, mas o que lhe foi negado.
– IV –
Àquela hora, em que os bichos nascem noutro lugar. A mesma, na qual morrem sem pestanejar.
Essa hora sempre tão exata e sempre tão incerta.
ResponderExcluirHora mais justa desconheço, chega para todos, sem atraso.
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