Hora precisa

 

 

  – I –

Àquela hora em que os bichos noturnos voltam da caça, uns de barriga cheia, outros com a fome acumulada há três dias; e os diurnos acostumam as pupilas enquanto não é de todo claro, atentos à força e instinto; espreitava. Incólume, desde muito antes. Sequer lhe tremiam os membros ou oscilava o corpo. Tesos os ombros, soltos os pensamentos.

  – II –

Ao sol, sob um céu azul infinito, mantém fechados, os olhos, e abertos os punhos. Sente o calor na pele. Estica-se. Faz menção de levantar-se, desiste. Sob o sol, ao céu azul bonito.

 III –

Mais tarde, quando os cascos da noite se fizerem ouvir, sentirá o apaziguamento, espera. Talvez seja a derradeira, deseja. Ofegará enquanto se esvaírem os restos de si. Sonhará, talvez. E chorará, não o leite derramado, mas o que lhe foi negado.

 – IV –

Àquela hora, em que os bichos nascem noutro lugar. A mesma, na qual morrem sem pestanejar.  

 

Comentários

  1. Essa hora sempre tão exata e sempre tão incerta.

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    1. Anônimo18/8/22

      Hora mais justa desconheço, chega para todos, sem atraso.

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(Saber o que o outro pensa, faz diferença...)