Escrito breve sobre o grandioso

 

 


Acordou de madrugada com o silêncio. O silêncio era como um tecido diáfano, um tule, a roçar-lhe a pele numa carícia sutil. Não queria abrir os olhos, temia o fim daquela sensação, a extinção do encanto. Deixou-se quieta, acordada e de olhos fechados. O silêncio era maior que a noite, bem maior.

Em si também fazia silêncio. Nenhuma batida descompassada de coração, nenhuma respiração barulhenta, nenhum pensamento proeminente. Não era opressor, o silêncio. Não a alarmava, não a acolhia, só existia e existir bastava. Talvez isso fosse paz.

Mexeu-se cuidadosa na cama, acomodou a cabeça melhor e continuou com os olhos fechados para não afrontar o silêncio, como se ele fosse uma entidade sensível, e devia ser mesmo.

Será que havia uma hora precisa, na qual o mundo parava e se instalava o silêncio absoluto? Será que flagrara este acontecimento secreto? Seu desfile majestoso sobre tudo.

Não viu quando dormiu, embriagada daquele encontro raro. Sono solto, sonhos livres.

O dia acudiu a ressaca de Morfeu e ela escorreu da cama, agarrada ao tule, ausente.

 

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