Esparsos na tarde

 

Gosto quando me chamas “meu bem” e seus lábios se beijam duas vezes

Quando falas “querida”, e sua língua vibra e roça os dentes, é bonito

Mas é quando nada dizes, e sua língua me encontra, que tudo sibila.

 

Olho o buraco de formigas, intriga-me

Imagino a miríade de túneis e caminhos

Eu também sou labirinto em mim.

 

Aberta a temporada de negociações

Muno-me das mais atraentes propostas

Ignoro que com Deus não se negocia.

 

Se eu passasse a maior parte da vida sob a terra

Também cantaria enlouquecida ao sair

A serenata interminável das cigarras comove-me.

 

No meu escuro há sempre um vaga-lume

Não é uma estrela, ou um cometa, ou a lua

É palpável, embora eu não arrisque tocá-lo.

 

Penso no seu sorriso, que tem qualquer coisa de ausente

O meu sorriso é muito fácil e se dá despudorado

O sorriso é quase um jeito de ser a gente.

 

Comentários

  1. Amei, tia. Li tanto de ti nesse poema... E essa varanda, ainda com as marcas das nossas vozes e risadas, que delícia...

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    1. Anônimo4/11/22

      Acontece da gente se mostrar demais, às vezes, né... Ou, por outra: bendita intimidade!

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(Saber o que o outro pensa, faz diferença...)