Manhã ordinária

 


Umedeço os lábios com a língua viva

Umedeço os olhos com colírio

e às plantas com água do filtro

e ao sexo com delírio e saliva

 

Gasto muitas horas com palavras

escritas, lidas, ouvidas, ditas

Gasto muito pensamento à toa

fundos, claros, raros, sem ressalvas

 

Umedeço o travesseiro com suor

e a nuca molhada anseia a brisa da madrugada

Gasto a coragem de um jeito menor

escondo a leveza nos úmidos da vida escancarada

 

Não sei nada de economia

À noite possa ser que tenha medo

Gasto o dia sem sabedoria

Colírio, língua, saliva e degredo

Comentários

  1. "Gasto muitas horas com palavras"... Gostei de tudo, mas essa parte me parou.
    E, que se registre, entre leveza e sabedoria, tendo a preferir a primeira

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