No amiudar do dia
Esperava.
Balançava a perna direita sem perceber, caminhava um pouco, mas não se afastava muito. Sentou-se no banco de concreto, colocou as mãos espalmadas sob as coxas para evitar a superfície fria, alternava o movimento dos pés, como se corresse no ar para saltar.
Às vezes olhava para o chão, às vezes pendia o olhar para o nada, longe, longe.
Esperava.
O dia nascia. Um raio de sol atravessava a cidade, vencia os prédios, se esgueirava entre as brechas e explodia numa fachada espelhada, era bonito, mesmo que doesse nos olhos. Sentia a invasão da vida em seu peito, era bom e assustador. Talvez fosse assim o amor.
Quase sorriu, mas temeu a dor. Desviou os olhos de toda aquela luz e calor.
Esperava.
Uns meninos soltavam pipa no espaço vazio que não chegava a ser nada, uma rotatória agora bem aproveitada, um andava numa bicicleta pequena para ele, riam, falavam alto, riam. Como se o tempo não tivesse hora, como se a hora não tivesse pressa.
Sentiu inveja da pipa, do menino sem as mãos no guidom, dos que não esperavam.
Suspirou.
A coragem chegou.
Incompleta, só o bastante para um tanto do dia, um tanto de afeto, para um tanto de... não sabia para o que daria.
Talvez amanhã, ou noutro dia, ela chegasse mais inteira, mais potente, mais ousada.
Esperava.
Acho que todas nós esperamos um dia ser inteiras... Acho que a coragem está em a gente deixar a vida invadir a gente na nossa incompletude...
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