Muito delicadamente
O funcionamento da velha geladeira habita o silencio da manhã
As últimas gotas de café pingam do coador em intervalos cada vez mais longos,
até cessarem
Esbarro o braço no armário aberto
E não há nenhuma poesia nisso
Só eu
e meu turbilhão
e minha cabeça barulhenta
e minha desconcertante agitação,
na tranquilidade da manhã recente.
Em goles demorados, tomo o café
Penso no verso do João Cabral e a enormidade da minha solidão se revela,
não é possível tecer a manhã.
Sirvo, pois, um café ao poeta e resigno-me.
Com o flanco exposto
encaro o horror,
escancaro o feio
e, muito delicadamente, diz-me
“Não
é lá fora o dia
Que me deixa assim,
(...)
É a
dor das coisas,
O luto desta mesa;”
Quando não, tecemos uma manhã azul-poesia.
Tia, vez por outra penso que a poesia também (sempre?) nasce desse antipoético da vida que recusamos a acatar em definitivo. Há manhãs azuis, há manhãs que ficam por tecer...
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